Hoje a série enfoca a "Sétima Arte", o Cinema. Os registros das primeiras exibições no Brasil datam de 1896, com filmes curtos sobre cidades europeias. Entretanto, o cinema brasileiro se desenvolveu, segundo o acervo do Estadão, em meados de 1930, com as chanchadas (comédias musicais e cômicas de baixo orçamento com artistas da TV e do rádio) dos estúdios Atlântida, sendo os pioneiros dessa fase os atores Oscarito e Grande Otelo, e o diretor Anselmo Duarte.
Antes disso, se voltarmos ao início da história por aqui, podemos citar os irmãos italianos Paschoal Affonso e Segreto como os primeiros cineastas do País, tendo em vista que filmaram na Baía da Guanabara em 19 de junho de 1898, segundo a Academia Internacional de Cinema. Essa data ficou consagrada como o Dia do Cinema Brasileiro, mesmo que não haja registro do material produzido.
Esse aspecto documental marcou os primeiros filmes nacionais. Já o primeiro de ficção foi o curta "Os Estranguladores" (1908), de Francisco Marzullo e Antônio Leal, e o primeiro longa-metragem foi "O Crime dos Banhados" (1914), dirigido por Francisco Santos. Em geral, os filmes de ficção eram comédias ou inspirados em crimes reais. Eram chamados de filmes "posados". Na época havia também os filmes "cantados", com atores atrás da tela dublando a si mesmos. Obras literárias adaptadas para a tela também faziam sucesso.
A avalanche de produções hollywoodianas ganhou força durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), com a redução da produção europeia. Na época, o cinema nacional também ficou enfraquecido diante da entrada, sem taxas alfandegárias, dos filmes norte-americanos no País.
Por volta dos anos 1930, a companhia cinematográfica "Cinédia" começou a produzir filmes com características que lembravam as produções hollywoodianas, pois o público brasileiro estava acostumado com as legendas e enredos americanos. As produções contavam com atrizes como Carmem Miranda, e os filmes que se destacaram foram "Alô, Alô, Brasil" (1935), "Alô, Alô, Carnaval" (1936), "Bonequinha de Seda" (1936) e "Pureza" (1940). A Academia Nacional de Cinema cita "Limite" (1931), de Mário Peixoto, "A Voz do Carnaval" (1933), de Ademar Gonzaga e Humberto Mauro, e "Ganga Bruta" (1933), de Humberto Mauro, como os filmes mais relevantes daquele período, além de mencionar "Acabaram-se os Otários" (1929), de Luiz de Barros, como o primeiro filme nacional do cinema sonoro.
Em 1940, após a abertura dos estúdios Vera Cruz, o cinema brasileiro pôde ter uma sensível alavancada. A Atlântida Cinematográfica foi fundada em 1941, com o objetivo de fortalecer a indústria cinematográfica nacional, e foi extinta em 1962. Colocou sob os holofotes estrelas como Oscarito, Grande Otelo, o cantor Dick Farney, os diretores Watson Macedo ("Este Mundo é um Pandeiro", 1947, "Não Adianta Chorar", 1945) e Carlos Manga ("Nem Sansão Nem Dalila", "Matar ou Correr", ambos de 1954, "O Homem do Sputnik", 1959). A marca registrada da Atlântida, a chanchada, fazia uma paródia ao cinema estrangeiro e retratava as mazelas da vida pública e social daqui. Carnaval, comédia de costumes e os personagens folclóricos do Rio de Janeiro estavam entre as temáticas mais exploradas. Outro filme de grande destaque nos anos 1950 foi “O Cangaceiro” (1953), de Lima Barreto. A Vera Cruz foi à falência em 1954, ano de lançamento do primeiro filme brasileiro em cores, "Destino em Apuros", de Ernesto Remani.
Um dos precursores do movimento cinematográfico Cinema Novo no Brasil foi o filme "Rio, 40 Graus" (1955), de Nelson Pereira dos Santos. Vários cineastas passaram a criticar a indústria cinematográfica brasileira por imitar Hollywood. O movimento cresceu na década de 1960, tendo como principal representante Glauber Rocha. Ele dirigiu filmes que, segundo a Academia Internacional de Cinema, se tornaram símbolos dessa fase, como "Deus e o Diabo na Terra do Sol" (1964), "Terra em Transe" (1967) e "O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro" (1968). Destacam-se ainda "Vidas Secas" (1963), de Nelson Pereira dos Santos, e "Os Fuzis" (1964), de Ruy Guerra.
Foi nesse período também que as comédias de Mazzaropi obtiveram enorme sucesso de público. Eva Todor, um destaque do cinema brasileiro, estreou como Madame Gaby, ao lado de Oscarito, na produção "Os Dois Ladrões" (1960), de Carlos Manga.
Lançado em 1962, "O Pagador de Promessas" foi dirigido por Anselmo Duarte (1920-2009), em uma adaptação de texto teatral homônimo de Dias Gomes (1922-1999). No elenco principal, Leonardo Villar (1923-2020), Glória Menezes (1934), Dionísio Azevedo (1922-1994), Geraldo Del Rey (1930-1993), Antônio Pitanga (1939), Othon Bastos (1933) e Norma Bengell (1935-2013).
Importante destacar o filme "Dona Flor e Seus Dois Maridos" (1976), de Bruno Barreto, que teve recorde de público (10,7 milhões de espectadores), bilheteria superada apenas em 2010, com "Tropa de Elite 2", de José Padilha.
São tantos astros e estrelas pioneiros do cinema nacional que precisamos citar mais alguns: Ronald Golias, Mojica (o Zé do Caixão), Berta Loran, Dercy Gonçalves, Zezé Motta, Odete Lara, Nathalia Timberg, Sandra Bréa, Marília Pêra, Vera Fischer, Paulo José, entre tantos outros.
Agora apague a luz e pegue seu balde de pipoca! A lista abaixo é uma sugestão da Academia Nacional de Cinema (elaborada pela professora Lucilene Pizoquero) de 20 filmes nacionais imperdíveis:
Barro Humano (1929), de Adhemar Gonzaga
Sangue Mineiro (1929), de Humberto Mauro
Limite (1931), de Mário Peixoto
Ganga Bruta (1933), de Humberto Mauro
Carnaval Atlântida (1953), de José Carlos Burle e Carlos Manga
Sinhá Moça (1953), de Tom Payne e Oswaldo Sampaio
O Cangaceiro (1954), de Lima Barreto
O Pagador de Promessas (1962), de Anselmo Duarte
Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), de Glauber Rocha
São Paulo, Sociedade Anônima (1965), de Luiz Sérgio Person
Terra em Transe (1967), de Glauber Rocha
O Bandido da Luz Vermelha (1968), de Rogério Sganzerla
Matou a Família e Foi ao Cinema (1969), de Júlio Bressane
O Homem que Virou Suco (1981), de João Batista de Andrade
Cabra Marcado para Morrer (1984), de Eduardo Coutinho
Central do Brasil (1998), de Walter Salles
Notícias de uma Guerra Particular (1999), de João Moreira Salles e Kátia Lund
O Invasor (2002), de Beto Brant
Cidade de Deus (2002), de Fernando Meirelles
Jogo de Cena (2007), de Eduardo Coutinho
*em ordem cronológica
Imagens: Grande Otelo e Dercy Gonçalves, fonte: Acervo Estadão.
Eva Todor, fonte: Enciclopédia Itaú Cultural.
Fontes de pesquisa: Academia Internacional de Cinema (AIC), Acervo Estadão, Enciclopédia Itaú, Ancine.
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