ZENTA: Qual foi a sua grande "virada de mesa"? O que mudou?
CARLA DE CARLI: Desde pequena, sempre fui apaixonada por fazer bijuterias. Ia passar as férias na casa dos meus avós em Caxias do Sul e fazíamos "bijouxs" para eu vender na porta da casa deles. Antes de ter filhos, levava uma vida muito ativa,
com muitas viagens a trabalho. Quando engravidei do meu primeiro filho, Gabriel, precisei ter uma gravidez de repouso, que exigiu que eu parasse de trabalhar. Um ano e quatro meses depois, nasceu Luigi, o meu segundo filho. Decidi me dedicar intensamente à vida de mãe por cerca de oito anos. Em um feriado, fizemos uma viagem em família para um resort na Praia do Forte. Lá, comprei um anel de pedras e fiquei completamente apaixonada pela sua forma, já que se ajustava para qualquer pessoa. Ao chegar em casa, resolvi fazer anéis inspirados naquele que havia comprado. Em uma semana, tinha vendido todos os que produzi. Resolvi fazer mais peças e tomei a decisão de participar de bazares com uma mesa só de anéis, mesmo estando no começo. Acabei por vender todos novamente! Ao falar com as minhas clientes, percebi uma demanda por produtos para o público feminino, como pulseiras e colares. Assim, aquele sonho da menina que passava férias em Caxias do Sul tinha começado a se tornar realidade...e nasceu a Carla De Carli Acessórios. Porém, queria atender um público mais amplo e trabalhar a partir da minha casa. Assim fui construindo canais de vendas por meio das redes sociais, pois o relacionamento com as minhas clientes é fundamental para o meu negócio. E me especializei em vendas pela internet.
Z.: Em que idade e fase da sua vida isso ocorreu?
C.C.: Estava me dedicando intensamente à vida de mãe, mas já sentia que meus filhos estavam crescendo o suficiente para não dependerem completamente de mim. Tinha 43 anos quando resolvi seguir o meu sonho de trabalhar com criação e venda de acessórios, pois acredito que nunca é tarde para ampliarmos as perspectivas sem abrir mão de valores importantes para a minha vida, como minha família.
Z.: Como foi o processo para essa mudança? Como se preparou?
C.C.: Quando percebi que tinha um negócio potencial, tive que fazer muitas adaptações na minha vida, pois os meninos eram pequenos e muito acostumados comigo. Tive que equilibrar o meu lado de mãe com o lado da empresária. Comecei participando de bazares só com uma linha de produtos e, a cada evento, fui diversificando através de vendas pela Internet. Estou constantemente pesquisando tendências da moda para meus produtos, desenvolvendo parcerias com meus fornecedores e fortalecendo minha formação como empresária por meio de cursos e workshops.
Z.: Quais as principais dificuldades que enfrentou?
C.C.: No início, adaptar meus horários ao papel de mãe e empresária foi muito desafiador. Conto com a ajuda do meu marido e de uma pessoa muito querida, a D. Lourdes, que trabalha há mais de dez anos em casa. Aprender a trabalhar com as redes sociais também é um desafio, pois capturar a atenção das clientes exige conteúdo e qualidade nas postagens. Além disso, atendo todas as clientes pessoalmente, o que exige uma disponibilidade de horários que, muitas vezes, conta com a compreensão da minha família...inclusive nos finais de semana...
Z.: Quais os principais apoios/companhias/inspirações para conseguir?
C.C.: Além do apoio da minha família, minhas clientes mandam mensagens com elogios e fotos das "bijouxs" que elas usaram! E esses comentários são uma fonte de apoio e incentivo. Mas gostaria de contar mais uma história inspiradora da minha infância: um dia, estava “vendendo” meus produtos na porta da casa dos meus avós em Caxias e várias pessoas passavam e compravam o produto. Fiquei feliz e realizada e, alguns anos depois, meu avô me contou que pedia aos amigos para comprarem os produtos da sua neta como uma forma de incentivo! Inspirador perceber como sonho e realidade podem andar juntos em momentos diferentes da nossa vida...
Z.: E os maiores benefícios que conquistou?
C.C.: Hoje tenho um negócio com potencial de crescimento e não abri mão de acompanhar o crescimento dos meus filhos, agora adolescentes. Acho que também estou construindo um negócio em que posso crescer durante muitos anos.
Z.: O que você falaria para alguém que pensa em "virar a mesa"?
C.C.: Diria para viajar no tempo e buscar na sua história de vida algo que tenha sentido e te faça feliz. Depois diria para não se assustar com os desafios da vida de pequeno empresário no Brasil, pois virar a própria mesa exige resiliência e capacidade de adaptação.
Carla De Carli
Instagram @carladecarliacessorios
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