ZENTA: Qual foi a sua grande "virada de mesa"? O que mudou? Em que idade e fase da sua vida isso ocorreu?
Lucilla Glogowski: Sou formada em Serviço Social. Trabalhei pouco tempo nessa área. Por quatorze anos, trabalhei na área de seguros, porém não gostava. Achava uma área muito mal-humorada, pois você trabalha com bens, saúde e perdas, ninguém nunca fica satisfeito.
Primeira virada, aos 41 anos, desempregada, fui trabalhar no departamento Cultural de um clube em São Paulo e era a responsável pelo Cinema e Galeria de Arte. Nos últimos oito anos, assumi também a Cultura Judaica. Nesses quase 17 anos de clube, foram diversos desafios, pois nunca havia trabalhado com estas áreas. Foi um desafio bem bacana e muito enriquecedor, sem falar na agitação que o trabalho pedia.
Aos 58 anos, me aposentei e, juntamente com meu marido, resolvemos sair de São Paulo e procurar um sítio. Desejávamos um local com água (lago, ou tanque, como se fala no interior), queríamos plantar, ter contato com a natureza e poder dar espaço para nossos três cachorros na época, pois morávamos em um apartamento de 80 m2 no Alto de Pinheiros, em uma rua movimentada, barulhenta, com as preocupações de segurança de uma metrópole, dia-a-dia corrido, custo de vida alto....
Tudo foi resolvido em três meses, entre procurar o sítio, visitar alguns e, no quinto sitio, nos apaixonar e mudar. No início de janeiro de 2017, colocamos o apartamento à venda e mudamos de mala e cuia para o sitio em Piedade, uma cidade que não conhecíamos. Com tanta terra, pensamos que deveríamos produzir e trabalhar nela. Fizemos uma parceria com um casal de agricultores e começamos a plantar: na terra, morangos; na estufa, abobrinha, alface, salsa, coentro e tudo o que é da época.
Hoje temos um pomar que produz caqui, mexerica, goiaba, pitanga, abacates.
São três lagos no local. Eu, que nunca tinha me imaginado pescando, aprendi e hoje adoro pescar com meu marido e, eventualmente, comer esses peixes que alimentamos todos os dias.
Temos atualmente quatorze galinhas e um galo, todas com nome e apelido e, pelo contato diário, optamos por deixar os ovos apenas para consumo próprio. Uma quantidade de pássaros, tucanos, galinhas selvagens, seis cachorros maravilhosos. E contamos, como "plus", com as 1200 árvores de cerejeiras (sakuras) de nosso vizinho, que desabrocham em maio. O espetáculo da natureza faz bem aos olhos e à alma.
Z.Quais as principais dificuldades que enfrentou? E os maiores benefícios que conquistou?
L.G.: Nossas preocupações foram escolher um lugar que fosse relativamente perto de estrada ou de alguma cidade próxima com fácil acesso a hospital e médicos, em caso de necessidade. Estamos a 30 minutos de Sorocaba.
Confesso que plantar seria bem mais tranquilo se tivéssemos vinte anos a menos, ou melhor, uma coluna mais nova, mas o sentido do tempo muda bastante! Você tem tempo para fazer tudo com calma, cuidar das hortênsias, olhar a natureza, deitar na rede, ouvir o barulho do vento, da chuva, dos pássaros. Voltar a fazer desenhos com as nuvens, mexer com a terra, ou não, comer a sua própria produção. Vender o seu morango em uma padaria e depois ver o bolo que o confeiteiro fez com ele é muito prazeroso.
Z. O que você falaria para alguém que pensa em "virar a mesa"?
L.G.: Você aprende a enxergar a importância do trabalho rural que é incessante, faça sol, chuva, sábado, feriado. Enfim, você percebe outras formas de viver tão gratificantes!
Lembro sempre da música “Eu nasci assim, eu cresci assim, vou ser sempre assim, Gabrielaaaa.....”. Então sou super a favor de viradas de mesa. Dá um frio na barriga, mas é muito bom!!!!!!
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